domingo, dezembro 06, 2009

Musica


A minha música não depende de afinações, ritmos ou harmonias.
A minha música ecoa numa sonoridade própria que reverbera em cada átomo do meu Ser.
Não preciso de ouvidos para sentir que, de cada terminação nervosa que em mim se encerra, soa a corda de um violino traçado pelas cerdas do seu arco. Num Glissando exuberante, sinto-me arrepiar quando expiro do ar os pequenos momentos que me dão profundo prazer.
Cada passo que dou, cada gesto que exibo, revela o andamento próprio das emoções que desejo revelar ou ocultar.
A minha música não é constante, insinua-se serpenteante, muitas vezes encetando num molto pianíssimo, evoluindo num crescendo que intervala do mezzo-piano ao molto fortíssimo. sucedendo em diminuendo ao seu inicio, quase inaudível.
Em dias mais exuberantes sinto rebentar cá dentro um sforzando tão súbito que se gera da força que reprimo de empurrar o meu destino onde sonho vê-lo.
Esta sonoridade não existe porque a procuro, mas porque é... apenas é!
CVA - Nov de 2009

sexta-feira, agosto 28, 2009

Esquecimento


Hoje amanheci com o dia. As noites têm-me sido sempre inimigas, esta não foi, permitiu-me descanso… e amanheci novamente….

Recordo que sempre tive alguma dificuldade em definir as minhas emoções porque sempre foram contraditórias, ora sentindo-me pacificamente impaciente, ou calmamente nervosa… nunca pude descrever-me como alguém que se mantêm emocionalmente numa linha recta, como duas ou mais linhas ondulantes enquadrassem uma dança entre si, aproximando-se e afastando-se, mas quase nunca se tocando. Não vario entre um estado e outro, apenas como se tivesse varias pessoas diferentes dentro de mim, cada uma com um sentir diferente, com uma racionalidade, tanto oposta como debilmente discrepante.

Para quem me lê ou tenta compreender, percebo que seja difícil descortinar o que tento tantas vezes descrever. Em regra as pessoas optam por uma das linhas e correm-na na sua percepção, não indo muito além da mesma. Não sou, contudo, uma das linhas oscilantes, mas todas elas, e por essa razão me sinto tantas vezes desentendida. Não obstante, persevero em dar-me a conhecer, pois temo esquecer quem sou.

…este amanhecer trouxe-me uma nova inquietude. Enceto uma nova fase, porque não disponho de mais caminho evolutivo no trilho em que me encontro. Sei por onde devo seguir e estou segura do guião que desejo ver realizado na trama da minha existência. Sinto confiança nos meus passos, nos meus actos. Sei exactamente como desejo ver a realização de tudo o que me proponho. Esta segurança obtenho-a do que vislumbro concluído para trás. As recordações de vitórias anteriores, de alcances e triunfos completados permitem-me quietude nas minhas capacidades.

Contudo, mesmo sentindo o pacifismo que esta seguridade me anui, não deixo de estar agitada igualmente, pois sei que posso não encontrar as ferramentas que me ajudem na evolução que careço principiar. Pois, tendo certo que me encontro limitada fisicamente na minha aprendizagem, a memória não me ajuda, tudo o que estudo esqueço, coisas que sabia seguras na recordação perdem-se. Simplesmente, não sei levantar-me desta areia movediça que me envolve cada dia que passa.

Leio profusamente, tentando regenerar o que não sei se é passível de regeneração. Não temo, já não temo. Apenas me frustra a incapacidade, porque desconheço limitações, porque nunca as vislumbrei e nunca lhes cedi. Sempre me convenci que sou capaz de qualquer coisa a que me proponha. E continuamente me provei que conseguia, vitória atrás de vitória. Tantas vezes não conseguia em primeira-mão o que me propunha alcançar, mas, sem desistência, voltava a tentar e atingia o objectivo.

A segurança que sinto, não provém de sonho ou idealização, mas da experiencia concreta do já conseguido. Neste momento, a incapacidade física escurece-me o futuro. Receio esquecer-me de mim….perder-me no vácuo…

Congrego-me de pessoas que possam estimular a minha evolução, mas poucas são as que me trazem algo intelectualmente novo. Em regra são elas que me procuram para as estimular… e eu afundo nas areias que não cessam de me puxar para o vácuo. Por outro lado, é da interacção que tenho com as pessoas mais conhecedoras que eu, que se forma a minha frustração, pois houve alturas em que eu absorvia a informação que me prestavam e a retinha sem complexidades. Hoje nada permanece, tudo se escoa como se tivesse um cano aberto dentro de mim, por onde tudo escorre.

Contudo, a segurança do que desejo ver concretizado mantêm-se! Sei exactamente onde quero estar e consigo vislumbrar isso mesmo num futuro próximo.

Desta forma, sinto uma paz inquietante, pois sabendo que continuando no novo trilho que se me apresenta eu poderei realizar o que já antevejo, contudo, inquieta-me saber que a luta será mais desgastante ainda do que as anteriores.

O meu Peregrino mantém-se comigo incessantemente enquanto discorro estes pensamentos, sem nada me dizer, sorrindo-me apenas. Não lhe entendo tristeza no olhar como antes, sinto-o tranquilo e tranquilizante. A revelação da sua presença na minha vida tem sido iluminadora e acompanhante. Raramente me sinto só, mesmo que desacompanhada, sinto-lhe a presença permanente.

Em momentos de angústia, sei que me basta respirar, fechar os olhos, e sentir-lhe o abraço quente. Nesses momentos deixo-me envolver e oiço a melopeia que me canta baixinho.

Estou certa que, no dia em que entrar no vácuo, o canto dele será a ultima coisa que hei-de escutar.


quarta-feira, julho 29, 2009

Hoje o Realizador lançou-me tão voraz feitiço que ainda não estou recomposta.
Roguei ao Peregrino um olhar, um sorriso, um canto... observa-me triste, taciturno.
Eu que sempre tenho mais uma pergunta a fazer, estou vazia, dormente.
Gostaria de poder dormir, de pousar na almofada as questões que não me surgem... entrei no nada e lá permaneço, encarcerada.
Nem a desilusão do abandono, a raiva do desconsolo me levantam o espirito para erguer punhos e regressar a luta.
Hoje, aninho-me na minha pele que lacera a cada movimento e ai permaneço, imóvel, aguardando um fim digno de uma "cana de vime que verga mas não parte"

terça-feira, abril 28, 2009

Menina Mármore

Naquela divisão penumbrenta encontrei-te sentada, meio arcada num canto, indiferente e desabitada.

Os cabelos azeviches caíam emaranhados pelas costas delgadas, e os olhos mortiços, escuros como breu, enterravam anos de abandono e indiferença na face triste de criança que foi largada no tempo e no espaço.

Tentei buscar em ti um brilho de infância, uma candura de gesto… nada! Com arrepio reparei que da tua pele diáfana ressaltavam linhas, várias linhas de dor que infliges a ti mesma pela culpa que nunca deveria ser tua. E na ausência de amor, de carinho e de ternura, tu te mutilas vezes e vezes sem conta com a finalidade de embotar com a dor da carne, a dor que berra do teu espírito.

Os 12 anos de infância roubada gritam-te de todo o tecido que já não é maleável, que hirto está das mágoas perfuradas por pais que o nunca deveriam ter sido.

E assim eu te vi nas sombras, empedernida e riscada de traços e linhas e covas e ângulos de pedra que fazem de ti uma menina de mármore cuja rigidez regela ao olhar.

Em gesto desesperado toquei-te a face que indiferente se mantinha nos seus traços. A assistente social estava por perto e não pude chorar as lágrimas que tu deverias estar a chorar. Mas reparei que num momento me viste os olhos marejados daquelas que não jorravam.

Debaixo do meu abraço, junto ao meu colo não te sentia nem te ouvia. Queria poder aquecer este teu jeito de Menina de Mármore que ficou em ti e de ti não se solta. Queria partir a pedra que te tira a vida, mas que te mantém una com a pouca sanidade que ainda deténs.

Por fim dizes chamar-te Liliana, só Liliana. Não tens fome nem sede. Não sentes porque não tiveste direito a isso. O frio não te ataca. Só a minha presença a fazer-te estas perguntas que não queres responder porque já não tens voz. A outra senhora que está lá também devia sair para não te incomodar, mas sabes que agora viemos para ficar e tu ressentes-te com isso. Não queres mais perguntas, apenas queres voltar ao teu mundo onde a dor da carne embota a dor do espírito.

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Estou Lúcido como se Nunca Tivesse Pensado


A noite desce, o calor soçobra um pouco,
Estou lúcido como se nunca tivesse pensado
E tivesse raiz, ligação directa com a terra
Não esta espécie de ligação de sentido secundário observado à noite.
À noite quando me separo das cousas,
E m'aproximo das estrelas ou constelações distantes —
Erro: porque o distante não é o próximo,
E aproximá-lo é enganar-me.


Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Heterónimo de Fernando Pessoa

sexta-feira, fevereiro 06, 2009

Bastava...

Desejei que da tua boca saíssem palavras puras, afogadas de sentimento
Ansiei um gesto, um olhar, uma presença.
Bastava um sopro de beijo no meu cabelo,
Aquele olhar termo que vislumbrei nos escassos momentos... aqueles tão escassos momentos...
Bastava o ósculo terno que recebi de teus braços numa noite,
Bastava esticares a mão, um dedo, um olhar...
Bastava um ténue sorriso, meia palavra, pequeno suspiro.
Bastava-te sentir por mim o enamoramento que extravaso para ti.
Bastava...
Ou não sentes, ou és um Covarde!

sábado, janeiro 31, 2009

If you just...


Two days passing by the hour

Her eyes were waiting on love to came back home

But wouldn’t be able to love another

She’s waiting on love to come back home

One night she lay down her head

Closed her eyes and dreamed on happy endings

Woke up in delirious cry

She’s waiting on her love to come back home

If you could only see her now

I wish you could...


sexta-feira, janeiro 02, 2009

O meu 2009


Como antítese de mim mesma que sou, procuro a complexidade nos prazeres simples.

Desta feita, e como não podia deixar de ser, gostaria que o ano de 2009 me brindasse com mais e melhores sabores, as mais belas e doces cores e aromas que a natureza me possa proporcionar.

Gostaria, acima de tudo, que toda esta excelência fosse regada de companhia com conteúdo, sem frases feitas e lugares comuns, generosa da boa fé e do bem sentir.

Deste modo eu quero olhar-te a ti, 2009, nos olhos, e de sorriso aberto e espírito ébrio, ser tua anfitriã por mais 365 sublimes dias, carregados de 24 horas de extático reconhecimento.

Não sei se em anos passados o tive em divina excelência, mas tenho noção que de ti desejo muito mais... humildemente te peço: Dá-me!!


Com elevada consideração me subscrevo,

Cláudia Vaz Antunes ( a tua humilde serva )

quinta-feira, julho 10, 2008

Não sou pressa, não sou lentidão
Entro sem bater e permaneço
Deito-me no teu tapete e amanheço
Despojo-me de mim e da tua solidão

Não decido ser miséria nem ambição
Só uma luz nas tuas trevas a dançar
Um guia que segura as ondas do teu mar
Um farol a abrilhantar-te o coração.

Desejo ser desassossego na tua pele quando te miro
E com os sentidos te sentir na ternura a abundância
Naquele cenário de velas acesas num fascinar da fragrância,
Que se solta de mim e se reflecte no deslumbre das roupas que tiro.

Deixo-me perdida no teu corpo e o meu amor transpiro
Nestes altos e baixos das vagas desse teu oceano
Limito-me á luz que faço emergir no teu plano
E aquieto-me no teu tapete a lançar-te esta energia que respiro.

25-01-2008 1:00

segunda-feira, junho 30, 2008

A lua em mim

No regresso a casa perdi-me! Segui por outro caminho, sem rumo, sem direcção, em busca da lua.
No "lugar de nada" onde estacionei, saí do carro e continuei a fitar a lua.
Estas coisas acontecem-me por uma razão que eu não explico porque não tenho como, a lua tem esse efeito em mim, olho-a, e fico extasiada, e perco-me!
Por outra causalidade do destino, uma musica passava naquele momento na rádio: "É isso aí" da Ana Carolina... entranhou-se em mim... chorei como já não chorava há algum tempo. Mas o choro não corria de tristeza, corria de... não sei... emocionei-me... tanto!
Sinto necessidade de abraçar o mundo, de amar sem limites, de abraçar até os ossos me doerem e de mim sair o amor que em mim encerro!
Preciso de sentir que ao abrir os braços tomo meu o Todo que tanto anseio.
... e assim saio de mim para me encontrar, lá fora, com a minha alma nua nas mãos abertas, a cantar em harmonia ao som de uma guitarra... e as minhas lágrimas que me salgam as faces, lavam-me o espirito dos anseios que não vejo realizar.
E a lua ali jaz como testemunha silenciosa do manancial de sentimento que me inebria. A ela abro os braços e canto: - Eu não sei parar de te olhar!

quinta-feira, junho 19, 2008

Esta primavera

Mais uma fase que me sinto encetar neste meu guião que a todo o momento se vai desenvolvendo na linha mestra desta trama.
Nestes dias, regresso a casa, ao escritório, e encontro as portadas do terraço abertas de par em par com a brisa juvenil que me transporta os odores das flores em pleno desabrochar.
Do meu Realizador pouco tenho sabido, pese embora lhe erga constantes cogitações e agradecimentos. As cogitações, são as de sempre, os meus matutanços não me abandonam. Os agradecimentos, porque o meu Peregrino está de novo comigo e sinto-me uma mulher de sorte por ter tantas boas aventuranças desta vida que me sopra na pele.
Na realidade estes últimos dois meses têm sido um metamorfosear de risos e sorrisos.
O regresso ao espaço do escritório tem outro sabor sabendo que o meu Forasteiro lá se encontra à minha espera. Corro para ele e nos seus braços me lanço, feliz, maravilhada, como sempre fico nos seus braços. Sei que ele sorri por me sentir feliz. Desta vez não lhe faço perguntas, o tempo é precioso para deixar de o apreciar como se me entrega. Sinto-lhe o olhar, o sorrir, o cantar…
Caímos ambos no tapete junto à poltrona onde sempre me sento com ele por perto. Mas desta vez tombamos em braços, pele quente com pele quente. Oiço-o sussurrar-me naquele seu tom grave e suave, que tenho mais, muito mais à frente para sorrir. Eu acredito nele porque estou plena de sorrisos. Sei que os desassossegos daquela bagagem que me vergava as costas já ficaram para trás e agora só preciso de me repor do último ano de agruras.
Sinto o ocaso a descer quando ergo o olhar ao horizonte, para além dos muros do terraço, e lanço o meu espírito ao meu Realizador para lhe agradecer o curto instante que ali se passa.

terça-feira, junho 10, 2008


Não consigo dormir... estou cheia de amor, de carinho, de ternura. Vocês preenchem-me tanto meus queridos, meus doces, meus amigos! Vocês são a família que o Destino me colocou no caminho e que eu escolhi. Os vossos sorrisos, são os meus sorrisos, as vossas preocupações a mim pertencem. Os nossos caminhos cruzaram-se e agora somos companheiros de jornada, no bom e no mau.

Obrigada por terem estado comigo na minha jornada, obrigada pelos vossos sorrisos que tanto significam para mim. Hoje fizeram-me encantar de risos e sorrisos. Sorrisos que mantenho quando o poiso na almofada e relembro o afecto, os olhares, as expressões de amizade, de carinho. Não consigo dormir com tanta ternura, sinto-me explodir, quero explodir de contentamento... tenho tanta sorte em vos ter, a minha familia que eu escolhi e que me escolhe todos os dias quando me acompanha nas jornadas.

Hoje estou verdadeiramente comovida... e feliz!

Obrigada por estarem onde estão, hoje o meu coração transborda convosco!

Não vou dormir, mas vale bem a pena, vocês valem isso e muito mais!

terça-feira, junho 03, 2008

Ter Sucesso

Ter verdadeiro sucesso na vida é:
rir muito e muitas vezes; ganhar o respeito de pessoas inteligentes; gozar do carinho de crianças; ganhar o reconhecimento de pessoas qualificadas e saber suportar a traição de falsos amigos; apreciar a beleza; procurar o melhor nos demais; deixar o mundo um pouco melhor do que como o encontraste - com um filho são, um jardim bonito ou uma pessoa mais feliz; saber que ao menos alguém viveu melhor graças a ti.

sexta-feira, maio 30, 2008

Este sentir piano



Este sentir que tenho em mim
Ouve-se no som sustenido da música de um piano
No uivado solitário da coruja que me chama
Na cegueira em que me perco querendo encontrar-te

Na noite em que sou tua sem jus nem tino
É difícil viver sem o excesso
Do toque que me entregas das teclas do piano
De onde nascem as ânsias e as inseguranças

Nas pedras soltas do passeio que os meus saltos ecoam
Num caminhar sem redor sem destino
Por desejar flutuar até ti, meu doce
Como um ser de éter vivido e de teclas tocado

É difícil sentir como sinto… ás vezes sou tua, ás vezes de ninguém. Faz de mim musica e assim sempre me terás.

domingo, maio 25, 2008

II

Passam-se as semanas e a paixão entre os dois cresce indomável e quase insana. Por mais que os dois jovens intentem passar distraídos um ao outro, os olhares e os sorrisos traem-nos… se não olhassem, seriam outros os sentidos.
No início da tarde, presa no seu abraço, ele tinha-lhe dito: - Cada dia que passa, mais vontade tenho de estar contigo. Há coisas bonitas e sensações boas, mas tu meu amor, és, e dás-me sensações indescritíveis. O meu obrigado eterno! – Ela arrepia-se com o sentimento contido nas palavras que ele lhe murmura ao ouvido porque sabe que são cristalinas de comoção.
A experiência dizia-lhe que devia afastar-se das afinidades impetuosas, mas os sentidos não lhe toleravam manter-se longe dele. Ambos se consumiam de desejo em frente dos olhares indiferentes dos demais. Só as expressões dos semblantes afogueados pelo desejo os poderiam denunciar, mas mais ninguém reparava no mundo fervente que ambos experimentavam.
A labuta termina e ele precipita-se porta fora para a esperar no local combinado. Quando ela chega, quase a carrega do carro para fora com beijos e carícias. Entram dentro de casa batendo a porta, despojando roupa e desaguam em pele, onde se perdem durante horas, até ao novo dia que alvora.
Quando depois de mais uma noite mal dormida pelo ênfase da paixão ele sai, ela fica só, nua, nos lençóis onde ele deixou o odor do seu corpo. Em silêncio com as suas recordações um sorriso assoma-lhe nos lábios e espreguiça-se languidamente quando recorda os toques, os suspiros, os beijos, as sensações vividas naquele mundo tão deles, tão surreal.
As horas vão correr lentamente até voltar a mergulhar no doce azul daquele olhar. Mas anseia por mais uma noite onde ele descobre em cada milímetro da sua pele as suaves espontaneidades da sua feminilidade.

domingo, maio 18, 2008

I


Saiu de casa, sem rumo, sem destino. São 7:10 da manhã e o orvalho matinal traz o cheiro da terra que banhou. É aquele momento do dia em que os pássaros silenciam o seu canto e o sol perde a timidez. É aquele momento em que a brisa pára de soprar e o mundo se suspende para observar Vida.
É o momento em que ela sai, sem rumo, sem destino. Ela e os seus sapatos de corrida, que consigo carregam os pensamentos.
Dá por si parada a beira do penhasco, atrás dela a estrada, á frente o oceano tumultuoso que bate na rocha negra. Aqui a brisa já sopra em vento, revolvendo-lhe cabelo que traz preso. Não dá por isso, enceta uma marcha rápida que logo se converte em corrida táctil.
Conforme a estrada passa por debaixo das solas dos sapatos os seus pensamentos flúem, inicialmente sem qualquer nexo ou causalidade, depois voam para si, e para ele.
Um sorriso assoma-lhe os lábios quando recorda o primeiro beijo, dado em rompante entre a manete das mudanças e o travão de mão. Com o embaraço dos casacos húmidos da morrinha nocturna.
Ela recorda-se da primeira vez que o viu, concentrado no que estava a fazer. Não deu por ela, mas ela reparou nele. Ele salientava-se naquele ambiente repassado e impuro, alto, sorridente, brilhante, com um frescor típico de quem gosta da rua, do ar livre. Mas afastou daí o pensamento e seguiu o seu caminho de regras e correcções, como sempre fazia.
O tempo correu e ficaria a conhece-lo melhor, entenderia o seu coração, a sua vivência e experiência. Dali germinou a amizade natural entre dois entes que valorizam os pequenos grandes momentos.
Imersa nestas recordações acrescenta ritmo ao passo e levanta a cabeça para sentir o vento fresco que lhe arrefece o corpo já suado do esforço físico. A sua compleição esguia e atlética lembra a gazela da savana, que suspende o corpo a cada impulso da passada. Mas nesta manhã, contudo, são as suas reflexões que a movimentam, e fazem-no no erotismo da mulher que foi tocada, sentida nas mãos de um homem.
Ela nunca pensou que ele reparasse nela como mulher, que se interessasse por ela para além de uma boa colega, de uma boa amiga.
Ele disse-lhe quando a beijou que nunca considerou que algum dia seria dele, que era demasiado bom para ser verdade. Ele havia-a desejado para si desde o primeiro momento, mesmo quando não simpatizou com ela.
Nessa noite, depois dos beijos desembaraçados dos casacos que ficaram caídos no chão do carro, ele envia-lhe um sms a dizer que era um sonho tornado realidade. Ela ficara feliz com isso, com o sms, com os beijos embaraçados e desembaraçados dos casacos molhados da chuva.
Das últimas mensagens que haviam sido reciprocadas em desafio das carecias afectivas que ameaçavam a racionalidade dos dois seres. Do desdém enganador de quem deseja pela atracção que suporta, ao ouvido amigo de quem acompanha a desdita ventura de outrem.
Foi necessário rebentarem de privação para que os dois corpos necessitados se consumissem no fogo do enamoramento. Não pararam para pensar em mais nada, apenas na necessidade emergente, deixando a espontaneidade comandar, pela primeira vez, a irracionalidade sã que estava a ocorrer. E assim ficaram naquela hora da noite, os dois abraçados e conhecer com os lábios cada centímetro dos seus rostos, a tocar pele e derreter o olhar que afundavam quando o tempo parou para lhes dar passagem ao sentir.
O sol das 9 horas principia a amornar e a camisola de alças já transparece colada á pele. A respiração ofega e o cabelo cola-se-lhe à testa, mas ela ri-se jovial. Não repara nos transeuntes que a vêem passar a correr, numa corrida decidida e ritmada. O pés batem no chão com o ímpeto de quem deseja mais da vida do que simplesmente viver. E este novo romance inesperado trouxe-lhe a feminilidade de mulher que gosta de estar bela para que o seu companheiro a veja assim, bela. Não se apercebe que lhe basta a sensualidade que lhe permanece no olhar verde-anilado, na cor lhe que pinta a tez.
Os dias passam com beijos trocados, com olhares liquefeitos, com ânsias de mais tempo de mais oportunidade, de sons e desafios nos gestos que trocam. Todos reparam na felicidade lactente, mas não sabem que ela os desafia aos dois, é segredo deles e só deles.
Com o chão a passar debaixo dos pés, ela dá uma gargalhada cristalina num desafio de felicidade que ergue á vida, ao destino, á ironia que a vida lhe trouxe. É na relação inesperada, impossível, que a felicidade lhes acena e pisca o olho esquerdo.

segunda-feira, maio 05, 2008



Se pudesse trocar as voltas ao tempo, estaria novamente no consolo da curva do teu pescoço
Se soubesse deter o tempo, estagnaria o mundo só para me deixar mergulhar no oceano do teu olhar
Se conseguisse dominar o tempo, maneava-o para que todos os instantes fossem nossos.

Assim, sou apenas a mulher que anseia ter mais um fugaz instante na calma tua pele.

domingo, abril 27, 2008

Matisse - "dança"
Quero dançar embriagada de amor.
Desta carícia que sinto e que de mim transborda.
Pois desta manhã que vejo alvorar e em mim acorda,
Num fluir, num respirar que oiço neste ardor.




O meu Peregrino não me abandonou, tem guardado, nos últimos dias uma certa distância, para hoje se ter revelado em toda a sua doçura.
... e assim, novamente o ouvi rir, cantar, sussurrar palavras de afecto, de carinho, de delícia...
Como tive saudades tuas meu Forasteiro, meu anjo, meu doce... como senti necessidade de ti.
Por mais que soubesse que estavas por perto, sentia-me vazia, perdida, cinzenta.
Como é doce encaixar-me no teu abraço e dele sentir a tua respiração no meu cabelo... como é doce... meu anjo.
Na minha caixinha, naquela onde guardo as Pedras da Lua, mais uma junto, uma de cores matizadas. Abro a caixa e vislumbro cada recordação, cada brilho que tanta luz traz à minha vida.
Sou uma mulher plena de sorte, juntei tantas pedras... e tenho-te a ti!
Hoje não farei apelos ao Realizador, estou mais conformada, mas, acima de tudo, verdadeiramente feliz!


quarta-feira, abril 09, 2008

Desalentos

Hoje sinto necessidade de escrever sem sentido, sem lógica alguma, sem tempo, sem espaço ou consciência… apetece-me escrever com as entranhas, com as vísceras, com o meu âmago.

Quero dilacerar o Fado com as palavras que frustram o meu optimismo, que me impedem de sonhar esta noite.

Mas por mais brados que os meus punhos possam erguer aos destinos que se me acercam, não consigo deixar de ver as minhas Pedras da Lua brilhar e continuar a esperar que tudo isto que me acontece seja um outro destino final bem mais brilhante do que a escuridão que constantemente teima em me rodear.

Apelo à providência que me destine melhores e mais brilhantes dias, pois as forças fraquejam e a alma perde a sua luz…
Sinto falta do meu Peregrino que teima em deixar-me entregue a mim sem qualquer farol.

Esta esperança sinto-a menos como um bem e mais como um mal, pois não me deixa parar de lutar, desistir e encetar novas trilhas.

terça-feira, março 18, 2008

Este regresso

Aqui regresso, como se nunca daqui tivesse feito ausência para partilhar os meus matutanços.
Aqui nesta caixinha onde guardo as minhas pedras da lua, reparo que elas brilham novamente e me chamam a tocar-lhes a sentir-lhes a vida.
Sendo certo que muitas vezes tive vontade de amaldiçoar este fado que me atraiçoou com vendavais que me vergaram até ao impensável, na realidade já consigo novamente abrir asas e fazer uso dos ventos para voar a bom destino.
Retorno ao bem sentir, às boas palavras, aos bons conselhos que sensatamente reparto comigo e com os outros.
Como sempre me disseram os que me conhecem, sou "cana de vime que verga e não parte".
Às vezes pergunto-me: e se tivesse partido, teria tido quem me refizesse? Receio um dia partir... e assim ficar...
O que é real é que agora estou bem mais flexível do que antes. Venham vendavais e outras tempestades, porque a cabeça refez-se de novas reflexões, e as minhas Pedras da Lua estão onde sempre estiveram... brilhando cada dia com mais intensidade.
Porque escolhi esta foto??? Porque me sinto como o meu amigo Luka: uma estudante do bem querer.
Um bem haja enorme a quem permanece comigo nesta minha viagem.

terça-feira, novembro 06, 2007

O valor da ingenuidade

O maior perigo que corre o ingénuo: o de querer ser esperto. Tão ingénuo que cuida, coitado, de que alguma vez no mundo o conhecimento valeu mais do que a ingenuidade de cada um. A ingenuidade é o legítimo segredo de cada qual, é a sua verdadeira idade, é o seu próprio sentimento livre, é a alma do nosso corpo, é a própria luz de toda a nossa resistência moral.
Mas os ingénuos são os primeiros que ignoram a força criadora da ingenuidade, e na ânsia de crescer compram vantagens imediatas ao preço da sua própria ingenuidade.
Raríssimos foram e são os ingénuos que se comprometeram um dia para consigo próprios a não competir neste mundo senão consigo mesmos. A grande maioria dos ingénuos desanima logo de entrada e prefere tricher no jogo de honra, do mérito e do valor. São eles as próprias vítimas de si mesmos, os suicidas dos seus legítimos poetas, os grotescos espanatalhos da sua própria esperteza saloia.

Bem haja o povo que encontrou para o seu idioma esta denunciante expressão da pessoa que é vítima de si mesma: a esperteza saloia. A esperteza saloia representa bem a lição que sofre aquele que não confiou afinal em si mesmo, que desconfiou de si próprio, que se permitiu servir de malícia, a qual como toda a espécie de malícia não perdoa exactamente ao próprio que a foi buscar. Em português a malícia diz-se exactamente por estas palavras: esperteza saloia.

Parecendo tão insignificante, a malícia contudo fere a individualidade humana no mais profundo da integridade do próprio que a usa, porque o distrai da dignidade e da atenção que ele se deve a si mesmo, distrai-o do seu próprio caso pessoal, da sua simpatia ou repulsa, da sua bondade ou da sua maldade, legítimas ambas no seu segredo emocional.
Porque na ingenuidade tudo é de ordem emocional. Tudo. O que não acontece com as outras espécies de conhecimento onde tudo é de ordem intelectual. Na ordem intelectual é possível reatar um caminho que se rompeu. Na ordem emocional, uma vez roto o caminho, já nunca mais se encontrará sequer aquela ponta por onde se rompeu.
O conhecimento é exclusivamente de ordem emocional, embora também lhe sirvam todas as pontas da meada intelectual.

Almada Negreiros, in 'Ensaios'

terça-feira, outubro 23, 2007

4 in the Morning

segunda-feira, outubro 22, 2007

Distancia do sentido

Não posso ficar aqui assim, estática, quando a cada instante que passa os meus sentidos esquecem o teu cheiro. Da minha pele foge a tua recordação, fogem as células que cá deixaste.
Não sinto os teus olhos envolverem as minhas quimeras.
Porém, clamo para que o teu sorriso brilhe no sol dos meus dias; reclamo o banho do teu luar na cútis nocturna dos meus sonhos prateados.
Afiguro que, se me deitar aqui, virás ao meu encontro para que me preenchas mais do amor que tenho por ti.
Mas não posso imaginar, só por imaginar. Necessito da concreta sensação de aproximação corpórea. Necessito da tua respiração no meu pescoço, dos meus sentidos na minha pele, à flor da minha pele.
Porque não consigo amar-te sem te amar com todo o meu íntimo, com toda a minha essência.
Assim, irei ao teu encontro, livre do orgulho que me aflige a auto-estima, para que o que desejo ver concretizado dos meus sentidos, se materialize no contentamento arrebatador que sonhei pretender para mim.
Tu, meu amor, meu carinho, não tens de fazer nada, só receber…

sábado, agosto 04, 2007

O Tempo


O Tempo é o Mestre que nos presenteia com as respostas, mas apenas quando a Ansiedade o permite.

Sei que devo aguardar serenamente, mas sinto-me afogar em ansiedade.
Será que a silhueta que vislumbro lá bem ao fundo é a da Vitória, ou do Falhanço???
Faço por me envolver de sentimentos puros para que a dúvida não me assole... mas tenho momentos dificeis de purificar... preciso da tua ajuda.... AJUDA-ME!!!

quarta-feira, junho 13, 2007

Dá-me!!!

Mergulho todos os dias na necessidade fisica de mais um abraço, de mais um gesto, de mais uma palavra suave...
Estas ausências intermitentes gelam-me as lágrimas que cessam de correr para mais uma cicatrização.
Preciso daquele abraço, quente, respirável, palpável... sem palavras, sem atilhos ou questões...
Dá-me, não penses, dá-me...